quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Impressões MUITO pessoais do ANJOS DO PICADEIRO 9

Quando estou num espetáculo e ele é muito bom para minha experiêcia estética, não consigo pensar muito sobre.... não consigo discernir com clareza os elementos técnicos, me sinto tomada por inteira, sentidos, corpo-pensante.
Foi assim essa experiência no Anjos do Picadeiro 9.
Não consigo processar o que foi...
Penso que o começo foi na oficina de bufão... não entendi nada, fiquei confusa, foi uma merda de oficina, mas MUITO OBRIGADA! - disse isso à Andrés del Bosque, que ministrava a dita.
Estava incomodada - dentre outras questões - com o modo como eu tinha sido designada para sair de BUFÃO BRANCO - um bufão que não tem deformação física, mas espiritual... o que, no meu entender primário, me colocava no campo mais da fala que do gesto e ação. Quase para ir embora da oficina e preparar-me para a palhaceata eu resolvi pedir: quero ir com deformação. O professor permitiu.
Busquei improvisar uma roupa. Coloquei a bunda. Tá bom. Bundão e peito batido - os meus. Vamos lá.
Alguém se incomoda com os peitos batidos, encontra duas bolas grudadas - restos mortais do polvo (grande boneco de balão feito por Tomate) - enfia na minha blusa. Aceito.
Vamos à rua.
Começa o jogo... da vida... da arte...
Saí assim:

vista frontal


vista lateral

Bom... agora como esse corpo, essa vida joga com o mundo?... o início, tateando a manutenção da banda de bufões... sempre juntos... mas havia uma necessidade de "rasgar", de experimentar num outro tempo que não era do grupo... um tempo mais intenso, mais real, mais relacional com o as pessoas do mundo... assim, eu ia e vinha da banda...

meninas pedem minha maquiagem...


O jogo se dava todo no campo da conquista, da sensualidade, da sexualidade.
Com mulheres a troca de informações sobre as formas exuberantes, com os homens, conquista...

convite para uma entrevista na rádio



A entrevista.




conquista.



outra.


Um bufão de verdade, abre uma roda e anuncia e conduz o duelo entre a peituda e um palhaço.
achei essa imagem de raspão dele...

Eu, joelhos flexionados, pelvis pra frente, energia no rosto, ganas no corpo de estar ali, em jogo...
Baixo ventre.
Nenhum palhaço entrou na roda... eles querem ser bonitinhos... poéticos (?)
Então o bufão anunciou que eu iria comer uma banana - de onde ele tirou? não sei...
Mas num despendimento de energia, eu pensei, "puta me fudi! não sei como, mas vou ter que comer essa banana de uma vez só!"
Isso era única coisa que eu sabia.
Acho que podia ter explorado mais a banana na boca e nos outros antes de abrir.
Mas descasquei coloquei na boca inteira, o que fez com que ela saísse em "modo massa", numa imagem, talvez, entre desagradável e estranha. Andrés se divertia.
A banda de bufões acompanhava.
Ninguém - dos palhacinhos - entrou na roda. Negando f(j)ogo.
E depois esse bufão me dizia:
Você é uma dos nossos.
Você viu que ninguém quis entrar na roda? Aquele Elvis [uma palhaço que ele lançou na roda] saiu logo...

Que sentido tem a afirmação de um bufão de vida, de verdade, dizer que eu era uma deles... forte pra mim.

Nesse fluxo que veio desde a hora do duelo (que não ocorreu por falta de oposição... )as crianças que vendiam bombom na rua colaram em mim.
começaram fazendo uma torcida organizada no duelo:
'peitudáaaa! peitudáaa! peitudáaa"
Aquilo ficou marcado.
Depois elas continuaram no meu rastro...
Como assim? Algo de conotação sexual tão forte e é comigo que as crianças ficam?
De todos os palhaços que andavam naquela palhaceata?
Sinto que a resposta está para além de "ah! é essa juventude precoce"

Está na energia. No jogo.
Tanto para elas, quanto para mim, a necessidade de jogo, de brincar, move nossa presença.


À noite então, dançar!!!!
Cachaça para modificar o equilíbrio e dança.
Plano baixo - El suelo! - me apelidaram...

Vida,
rupturas de conceito,
perder-se dos antigos conceitos...
espero ainda decantar uma e outra coisa...
Vida.
Intensidade de vida.
Arte.


Carol - líder da banda de bufões e as crianças.




Carol, as crianças, Yure e o homem olhando para a bunda da Carol.




Um bufão da vida...



Andrés del Bosque - al centro.


Yure.


Johnny



Carol e Cláudio.


O bufões andam em banda. E esse coletivo, que no curso era de número cinco, que nos protege. O coro de bufões. Quem protege o bufão é a banda. E esse curso gerou em nós um sentimento de banda impressionante. Comentávamos sobre como estávamos, nós da oficina, sempre nos procurando. Íamos, mas depois voltávamos. É como se o bufão, com tudo o que há de torto e tosco, fosse um lugar de compartilhamento, de companheirismo, que as oficinas de "clown pessoal", com toda a sua incitação poética, não nos instiga...

[mais reflexões no rascunho - in off]

3 comentários:

  1. Vi o duelo da palhaceata. Estou iniciando o processo de criação do meu palhaço.Lendo seu texto, confesso que fiquei surpreso, pois mesmo no meu "bonitinho", pensei a mesma coisa que nosso amigo bufão. Com certeza! Poxa, encontrei-te por acaso aqui na net, gostei bastante do blog, visitarei mais vezes. Parabéns!

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  2. Valeu pelo compartilhar.
    Estou tateando esse palhaço que não precisa ser isento das coisas mundanas... mas que pode, sem sufocar esse campo tão humano, ser cheio de delicadeza e poesia.
    Um abraço.
    Carol

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  3. "Ninguém - dos palhacinhos - entrou na roda. Negando f(j)ogo."

    ufff... é por aí, é por aí!
    Obrigada por me fazer pensar sobre!

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