domingo, 17 de maio de 2009

A BRUXA E O LOBO - A PALHAÇA E A CONTADORA [A PERSEGUIÇÃO da linguagem do palhaço]

*[gosto dessa foto - acho que gosto do corpo fora do eixo, os braços em outra posição, um corpo pouco comum no cotidiano]


Nessa quarta 13 de maio eu, a professora substituta do maternal, levei minha indumentária palhacística e seu respectivo palhaço. ainda procuro uma roupa para o meu palhaço. Hoje experimentei outra.
A desculpa para estar e fazer a pesquisa é a contação de história.
Convidei os alunos da professora Luciana que pela manhã são os alunos do nível I, maiores que os meus em torno de um ano e, à tarde, são crianças do mini-maternal.
O espaço da mnhã foi a biblioteca.
Foi muuuiiito gostoso, porque o aluno que participou comigo tinha muita sintonia com o meu jogo. As crianças riram muito. Um bom jogo com alguém da platéia toca mais o público do que entre os atores, penso nesse momento. Bom lembrar das risadas gostosas. em troca disso que faço teatro. Sempre foi. Mesmo antes de descobrir a linguagem do palhaço. O riso... que intensidades se encontram detrás do riso.
Abaixo, imagens do jogo com o Pedro:

*[Passar por debaixo das minhas pernas! Sem combinar!!! Muito bom!!!]


*[Jogo na estante - exploração do espaço, jogo de pega-pega]

Mas percebo que ainda conto histórias. Não faço uma apresentação de palhaço.
E que ainda não triangulo nem 20 % do que deveria.
Sinto muita falta de uma direção ou de um(a) parceiro que possa ajudar a perceber os enganos e apontar as melhoras... mas tudo bem, vamos no pé que dá, no paso que dá.
A idéia continua sendo usar uma câmera para poder se auto-dirigir, porque é muito difícil pra mim me deixar vir impulsos, sentimentos, improvisação e estabelecer uma auto-consciência permanente.
A entrada: levei-os da sala até a biblioteca tocando o zabumba e cantando a música:
"Eu sou o Lobo mau, lobo mau, lobo mau! Eu pego as criancinhas pra fazer mingau!"
Esse é um momento em que funciona. Eles se divertem com as vozes e caras que faço.
E isso introduziu o assunto, pois ao perguntar sobre o que era a história, um deles já soltou: de lobo!


A conversa do começo, penso eu, foi a de maior aproximação da linguagem do palhaço: prontidão, improvisação.
Depois a história.
Aconteceu, muito pela tarde de as intervenções das crianças quase impossibilitarem a apresentação. Pensei, a aprtir dessa experiência: Por que não conversar com eles, como Chacovachi faz com seu público, sobre algumas necessidades do artista que ali está? Explicar sobre a inviabilidade de intervenções persistentes? Explicar sobre a participação, que não é possível que todos entrem, por isso, não ficarem gritando, depois de uma criança estar no palco: "Eu! Eu!"
Acontece muitas vezes e dessa vez aconteceu nas duas apresentações de um momento em que eu perco a atenção do público. Normalmente minha saída é aproximar o corpo e o olhar e encaminhar para o fim. Todavia, não quero mais isso. Quero encontrar um modo de trazê-los de novo pra mim, tão atentos quanto nos primeiros momentos. Mas como?
Talvez deixar-se tocar por aquilo que desperta mais o interesse deles do que eu. Se é um assunto, juntar-se à pessoa e entrar no assunto e puxar um boneco, ou tocar uma música... estar... de verdade, divertir-se. Experimentar... corajosamente, porque nunca fiz assim, com medo de perdê-los por completo.
Outra coisa sobre a relação palhaço contação é: se eu me comprometo com quem me "contrata" a contar histórias, eles ficam esperando a contação, por isso quando, um dia, o espetáculo for de palhaços, tem que deixar isso claro, para não ter que escutar a coordenadora dizer, depois daquilo que você considerou o melhor do espetáculo: "vamo lá, começar a história!". E quanto mais tansa, menos compreende...[irritação]

Com essa turma da tarde, fomos para o gramado. Como a turma era de crianças que tinham dois anos, a estratégia foi a mesma: vestir-se na frente deles. Mas conteceu que um grupo de crianças grandes que estava no horário de piscina e parque, de lá saíram para assistir à apresentação. O que deu outro tom à apresentação.
Acabei não tocando. Por puro descontrole e nervos mesmo. O velho problema de não conseguir manter calma na atuação. Atropelei um momento que, pensando agora, é uma boa ferramenta para trazê-los juntos comigo, para sintonizarmos na mesma frequencia, porque eu me divirto e eles gostam de ver o tambor e até de me ouvir cantar.
A troca de roupa tornou-se, para mim, a parte mais legal da apresentação. Para colocar a meia, eu não queria sentar, por conta da visibilidade. E como colocar a meia em pé? Pedi ajuda a uma criança. Legal. Bonito, mas agora elas viam minha calcinha - que foi motivo de jogo pela manhã e muito mais chamou atenção pela tarde - pedi ajuda a uma outra criança. Legal, bonito isso, mas eu não tenho alingamento para chegar até o pé que a menina segurava a kilômetros de mim. E tome mais esforço e mais risos.
Apenas uma criança pequena chorou nesse processo de ver a tranformação da professora à palhaça.



A apresentação da tarde não foi legal como a da manhã. Meu lobo, que era uma garota, parecia ter morrido em vida. Outro fator é que num espaço onde tudo pode disputar comigo, as professoras ficavam se comunicando com crianças do outro lado, mandando sair daqui e dali... bom o grande erro de minha parte é que eu não deveria ter ignorado e deveria ter ido até lá, onde elas jogavam o foco da atenção e jogado com o que estava lá...



Ah! E mais uma vez se confirma: quando menores, mais se deixam acessar por uma linguagem visual.
E: as crianças, com mais ênfase que os adultos nesse sentido, riem, sobretudo,dos enganos físicos: tropeços, bater a cabeça, ficar entalada, ficar vermelha de tanto fazer esforço para vetir a meia.
DA HISTÓRIA:

A BRUXA APAIXONADA E O LOBO FUJÃO.
de LILIAN ZIEGER
ilustrações de JÓTAH

Entrada: música do lobo-mau.
Alterei o começo:
A bruxa que era feia e traquina e fez uma porção que quando pega em alguém, a pessoa se apaixona pelo primeiro que vê. Ela se atrapalhou e a porção caiu nela. Ela se apaixonou pelo Lobo.

Alterei o final: quando a bruxa se transforma em alguém bonito, aí é que o lobo acha ela feia mesmo. E eles não ficam juntos, não do jeito que se espera, mas ficaram toda a vida assim, ela correndo atrás dele e ele fugindo dela... é uma forma de amor.



segunda-feira, 4 de maio de 2009

NADA NA MENTE - DEIXAR O CORPO AGIR COMO UM TODO

Estava eu com a testa engilhada, pensando sobre como encaminhar soluções sobre o que não me lembro nesse momento, quando minha irmã pergunta sobre o que "tanto" penso e me conta do filme o Último Samurai que lhe chamara atenção pela orientação dos samurais acerca do "nada na mente" ou "não pensar" como uma necessidade da luta. Veio bem a acalhar... me sinto medrosa para realizar as saídas nas ruas sozinha, sem um parceiro para jogar. Isso é reflexo do esquecimento da orientação dada ao palhaço:
não pensar, receber, não ser tão propositivo.
Sair na rua... caminhar, olhar, permitir-se ser olhada, reagir se assim sente vontade.
Apenas estar.
Sem passado.
Sem futuro.
Estar.
No presente.
Carol

Porque o palhaço (me veio isso na cabeça agora) se situa no jogo de ação-reação-reação-reação.
No sentido de que uma ação primeira (uma cor, um movimento, um objeto, uma forma,uma ação em si) provoça no palhaço, uma reação, que provoca uma resposta, uma reação no outro palhaço ou pessoa do público, que por sua vez, chega o palhaço... (optar por abandoar, sair, ficar, propor mais coisas, tranformar, repetir, ampliar) É um jogo de ação e reação. No curso da Fiorella ela nos apresentou essa idéia do "tempo de resposta" num exercício. Só se pode reagir se você escuta o que lhe foi proposto, de outro modo, são apenas respostas prontas e isso não contsitui o jogo do palhaço.


"Nada na mente": o corpo não pensa somente com o cérebro... deixar a inteligência corporal agir como um todo, num conjunto sensorial, emotivo, mental. Todas as partes, todas as células.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

O recomeço da Pesquisa do Palhaço



Fiquei fora do ar. Muita coisa. Mudei de Santa Catarina para uma cidade chamada SINOP, no Mato Grosso. Entre todas as emoções da mudança, é hora, ainda que timidamente de recomeçar a pesquisa do palhaço.
Por 30 dias (e se há passado uma semana) trabalharei numa creche para substituir uma professora que necessita reestabelecer sua saúde. Em meio à angústia da realização de um trabalho que não desejo, lembro do palhaço e resolvo aproveitar para pesquisar: pedagogia do teatro e a linguagem do palhaço. A professora de teatro e a artista.
Comecemos:
Público: crianças de 2 e 3 anos, meus alunos da creche.



As primeiras questões a serem experimentadas:
Terão medo da roupa?
Colocar ou não o nariz de palhaço?
Na verdade a segunda pergunta me inquieta desde quando eu e Lia contamos história em nossa primeira experiência juntas no palco.
Quando é que estou fazendo um espetáculo de palhaço e quando estou fazendo um espetáculo de contação?
Nessse momento acho que faço mais contação que palhaço. Sempre usei artifícios do palhaço. na contação, só me dei conta com o encontro com a linguagem do clown. Hoje eles são mais conscientes:
1- lutar para não perder a atenção do público. Isto implica usar "cartas" e quando não funcionar, mudar a tática. (mudei de plano, intensifiquei gestos, inseri frases,t oquei no corpo deles, abri para intervenção que percebi que vinha, tudo para garantir que estivessem comigo). Nesse sentido a criança pequena é um bom laboratório, pois eles tem pouca capacidade de concentrar-se numa mesma coisa, sobretudo nos dias de hoje.
2- apoiar-se numa pessoa do público que foi cativada.
3- olhar no olho
4- fisicalizar pensamentos e emoções.
Mas ainda falta a grande aquisição do curso do Ésio: a triangulação.
Pois bem, voltando à questão palhaço e contação... acho que ainda faço contação porque o eixo que move a apresentação é a história e na linguagem do palhaço isso poderia ser apenas o "mote" e eu, como disse Lia certa vez, poderia nem mesmo terminar a história, poderia emendar com outra se ali ouvesse espaço, poderia inventar uma outra. A história seria o motivo pelo qual eu estaria ali, a desculpa, mas não o motivo fundamental e imutável.

E como eles reagiram?
Em primeiro lugar, não entrei maqueada. Me maqueei na frente deles. Passo-a-passo. Professora de teatro e artista. Ali eles viam como no teatro alguém entra em um estado de representação em que já não é exatamente a pessoa cotidiana...
Mas nenhum riso foi arrancado. Entendo que a função do palhaço não tem por obrigatoriedade provocar o riso. Mas vale guardar essa pra pensar e observar nas experiências.
Eles estiveram comigo todo o tempo, mas penso que nem tudo foi mérito da técnica, parte deve-se à maquiagem e figurino e à tranformação que viram acontecer da professora de creche que virar um palhaço. "-Não! Não é palhaço! É palhaça!"- corrigia o Guilherme.
Talvez essa (o não riso) seja também uma das características da recepção espetacular de ciranças muita pequenas: eles levam muito a sério o que lhes é exposto.
talvez... observar mais.
Características:
1. eles levam muito a sério (será?)
2. eles riem mais dos movimentos do corpo do que qualquer jogo dado pela fala. (aqui também mora o palhaço: fisicalização das idéias e o palhaço depende do COMO se faz as coisas e não do QUE SE DIZ)
3. por isso também: a narração, a história, não 'deve' ter muitos detalhes, nuances...
4. não se deixar afetar por um jogo, onde a ação das crianças encontram resposta no palhaço logo de começo. Esse erro eu cometi muito no percurso da contação de história desde o Patati-Patatá. É quando uma criança, por exemplo, resolve atirar na bruxa que você apresenta. Se eu reagir num jogo de "Oh! ui atingida, vou morrer! e pufo! cair no chão" não conseguirá fazer mais nada porque não apenas essa, mas outras crianças se dedicarão a atirar infinitamente porque percebem que são escutados. Mas como não ignorar? . Na experiência de hoje, fui com clareza de experimentar evitar esse momento de reação antes do final da apresentação. ela pode até haver, como soube notícias de um espetáculo de Ilo Krugle, mas num momento em que não haja mais tanta necessidade da atenção das crianças, porque esta só retornará segundo um ato impositivo ou um jogo que provogue a atenção novamente...

Outra questão: a duração do espetáculo para crianças dessa idade. Esqueci de contabilizar este dado. Mas creio que devo ter ficado no máximo 10 minutos com essa história. Como chegar aos 50 min. É claro que numa estrutura de palco, a iluminação, a inserção de músicas, etc. podem ajudar... pensar...

Experimentar e melhorar:
1. triangulação.
2. a utilização recursos, como uma música tocada, etc., pois fico muito agitada e um elemento mais organizado com antecedência, que me exige uma certa calma, ainda não consegui inserir no trabalho que quero desenvolver... Preciso de mais calma no palhaço.