quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Lambe-Lambe: teatro de bonecos em miniatura.

Texto publicado na primeira revista sobre Teatro de Lambe-Lambe, pela cia. Andante.




Inversamente proporcional: o trabalho do ator-animador no Teatro de Lambe-Lambe.

Caroline Holanda[1]

Percebo que muitos pensam que o Teatro de Animação é um campo artístico de mais fácil criação e execução. É bem verdade que alguns trabalhos que se encontram por aí colaboram para a formação dessa opinião. Entretanto, essa arte é extremamente exigente em seu fazer. A interpretação do ator se estabelece na relação entre seu corpo e o objeto, mas é no objeto que ela tem sua imagem apresentada, realizando o que chamamos de desdobramento objetivado e que caracteriza o trabalho do ator no Teatro de Animação.

Mantendo a presente reflexão no âmbito dos princípios técnicos do Teatro de Animação, eu diria que se uma partitura de gestos e ações executada com clareza e precisão constitui um dos fundamentos da animação, na miniatura ela é uma condição imprescindível, já que qualquer mínimo movimento toma grande dimensão. Assim como a noção de síntese, na qual um elemento pode representar mais que a si mesmo, mais que aquilo que apresenta enquanto fonte de significação, deixando lacunas a serem preenchidas pelo público num ato criativo.

A síntese no Lambe-Lambe é hiperbólica: o boneco-objeto pequeno - geralmente com mais restrita mobilidade que os convencionais - demandam ainda mais apurada seleção dos gestos e ações mais expressivos na composição de sua partitura. Lembro de certa vez uma colega narrar-me a cena de um Lambe-Lambe em que a flor piscava os olhos e... assim que pude lhe perguntei: “E o boneco tinha mecanismo de olhos?”... ao que ela me respondeu que não. A piscada de olhos por ela “vista” é fruto da execução da animação em conjunto com sua imaginação. Acontece, portanto, nessa vertente do Teatro de Animação, um aumento da participação dos espectadores na construção de sentido dos signos apresentados. Essa participação, além dessa característica, ocorre com a intensificação da relação de proximidade entre artista e espectador, dado que o ator-animador desenvolve seu trabalho para uma pessoa e, embora possa ser para um número maior, como encontramos, o tamanho reduzido dos objetos convida a essa aproximação.

Muito poderia ser falado sobre esse universo que se encontra em plena efervescência no Brasil, sob diferentes perspectivas nessa abordagem. Entretanto, centrando-se sobre o recorte dado nesta reflexão, sublinho então que, ao contrário do que pode parecer, o Teatro de Lambe-Lambe exige do ator-animador um esforço inversamente proporcional ao seu tamanho: quanto menor o objeto inanimado maior a exigência em sua animação. Isso claro, se também for inversamente proporcional à miniatura o comprometimento do artista na realização de um trabalho de qualidade.



[1] Mestre em Teatro com pesquisa sobre Teatro de Animação pela Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC.

e-mail: carolmassinha@yahoo.com.br

blog livre: http://www.bola-cor-e-flor.blogspot.com/

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