terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Saídas de Rua - A primeira.



* Fotos: Carol - Greice - Lia. Fomos na praça de uma das entradas da UFSC. Nossos momentos mais intensos de interação com as pessoas foram no ponto de ônibus e dentro do supermercado.

A gente optou por fazer um treinamento de palhaço na rua. Eu e a Lia começamos em sala, no intuito de trabalhar principalmente a escuta ampliada entre nós duas. Mas foi na rua que nós encontramos - no momento - um caminho verdadeiro de treinamento para os nossos palhaços. Isso porque grande parte (quase tudo eu diria) do palhaço é a sua relação - com o parceiro, com o público, com os objetos. Por isso, esse caminho nos lança na necessidade de relacionar-se.
Saímos eu (Carol), Lia e Greice.
A Greice é da Traço. Uma Cia. (http://tracoteatro.blogspot.com/) que trabalha com a linguagem do palhaço.
Ela dirigiu o carro. De palhaça. Eu e Lia também estávamos de palhaça. O percurso do carro já é o começo.
Nossa instrução foi: não ficar tentando ser engraçado. Apenas relacionar-se com o mundo. Se surgir algo... jogar.
O palhaço é ainda uma icógnita pra mim. Essa instrução quer dizer o quê? é pra eu fazer o quê, afinal? Não sei... mas gosto que seja assim. No meu processo pessoal, pensar só atrapalha minha criação e aprendizado artístico. Eu travo... tentando dar respostas puramente mentais à situações que tem de ser respondidas com os sentidos, os sentimentos... o corpo inteiro... em seu conhecimento e memória cerebral, sensorial e emocional, principalmente sensorial e emocional.
Instrução da Greice: não avaliar e comentar o processo enquanto estiver no processo.
Por fim, pra mim, foi assim. Não sei bem o que se passou. Procurei nada fazer... o menos vale mais... mas faltava em mim uma energia, uma alegria, uma presença que encontrava quando estava no Maricotas que não vejo agora... isso me entristece... mas estou confiante de que continuando nesse processo, vou encontrar um modo de estar no teatro de novo... tem que andar... no teatro e sobretudo na linguagem do palhaço é preciso caminhar... e aprender com os erros...
Carol.


APRENDIZADOS DO DIA...

Uma mulher, na parada de ônibus comentou sobre que bom era ter-nos encontrado naquele dia porque tinha ao menos sorrido em meio a seus problemas. Nós ficamos a seu lado conversando sobre o que a angustiava. Ficamos um tempo. Falei de mim, Carol.
Depois disso nossa questão era: o que deveríamos ter feito? E a minha era: por que eu não deveria ter ficado lá conversando com ela, como me dizia a Lia?
Aquilo me incomodou... ouço falar do tempo dilatado do palhaço e por que não escutá-la? Fala-se liberdade de sentir e não posso fazer o que sinto vontade?
Dias depois, mais precisamente duas saídas de treinamento depois, enxergo a resposta da minha inquietação.
Não somos psicólogos, nem babás. Somos artistas e por meio dessa arte escolhemos nos relacionar. E temos nessa arte uma ferramenta poderosa. Uma linguagem com códigos artísticos. E no fundo as pessoas esperam de nós uma relação pela arte quando lá estamos de palhaço.
E mais: não podemos nos contaminar com a tristeza do outro. Ao contrário, devemos tentar contaminá-lo.
E ao propor outras saídas para a dor (que não seja sentar e conversar - como um ritual para espantar a dor - cantar, pular, oferecer um objeto, uma "piada") podemos tentar mostrar outros modos de se relacionar com o problema. Mas é preciso cuidar para que seja feito de um modo que nem nós, nem as pessoas, sintam que estamos "fingindo" que não vemos sua dor.
Sentar e escutar as histórias pode ajudar, mas talvez esse não seja o caminho mais potente da relação do palhaço, que é muito humano, mas também é arte.
Carol.


4 comentários:

  1. Legal a reflexão Carol.
    a potencia da arte me parece ser mesmo a capacidade em mudar polaridades.

    V Nepo

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  2. legal Carol!
    a potencia da arte me parece mesmo esta capacidade em inverter situações e mudar polaridades.
    Boa reflexão!

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