segunda-feira, 8 de março de 2010

A força no olhar...

Ontem no hospital... eu quis chorar... minhas lágrimas chegaram a aparecer... mas empurrei-as pra dentro... aquele corpo torcido pela paralisia cerebral com gemidos de dor intermitentes e sem parar... me faziam dor...
Como ajudá-lo, como arrancar dele aquela dor que há dias ninguém consegue descobrir...
Dra. Sirene com bola de sabão... largou logo e segurou a mão dele... condoída ao ver a cena...
a bola de sabão veio parar na minha mão... como se eu conseguisse fazer alguma... mas eu fiz e ele olhava para elas... Dra. Sirene dizia "Vai passar, vai passar, vai passar..." Era visível sua vontade de que passasse.
Eu não ousaria dizer que ia passar... mas, depois de algumas bolas de sabão coloquei minhas mãos, nos peitos e nas costas, apertando sem machucar como se quisesse, eu, sem nada saber, encontrar onde estava a dor e fazê-la passar com minhas mãos... chamei o René... foi um impulso, me veio ele... às vezes ele parava de gemer... queria eu que fossem minhas mãos... mas acho que era o cansaço do longo tempo sentindo dor e contraindo a musculatura... em alguns momentos ele olhava em meu olhos e eu tentava com toda minha vontade dizer-lhes, em meu olhar: "tenha forças, não desista!"
Já é um forte quem se propõe nascer num corpo tão tolhido quanto o dele...
Ele olhou-me algumas vezes...
Carrego seu olhar comigo...
e a imagem de seu corpo retorcido...
As lágrimas vêm ao lembrar da cena... porque... nem sei... mas não é pena dessa vez... acho que é por ver num espírito e seu corpo, a força da luta no caminho de ser melhor...
A força...
A emoção de me deparar com a força... que penso nunca teria...







Técnicamente, guardo uma questão: como palhaços interferem em situações extremas como essa? como fazem os doutores da Alegria? Como fazem os Palhaços sem fronteira?
Vou buscar...

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