sexta-feira, 12 de junho de 2009

sobre se encher para se esvaziar... (improvisação)

IMPROVISADOR - PRIMEIRAS NOÇÕES

Por Tereza Gontijo – atriz e improvisadora da LPI-BH


Improvisador - primeiras noções I:
Pode parecer estranho quando, se me perguntarem o que faço, eu disser: sou improvisadora. A princípio, eu mesma me pergunto por que essa distinção, entre ser ator e ser improvisador. Talvez seja mesmo uma linha muito tênue que separa essas duas noções, mas só sendo parte desses dois mundos para entendê-la.Ser improvisador é como ser palhaço. É mudar o olhar sobre a vida, e sobre como lidar com tudo isso que vai à nossa volta. É ser dentro e fora de cena.O improvisador precisa estar atento ao que acontece no caminho da padaria, na fila do ônibus, nas linhas do jornal. Precisa se alimentar de vida, desde os pequenos detalhes aos fatos que correm o mundo, precisa juntar todas as bagatelas e badulaques que encontrar para que, em algum momento, possa se utilizar delas. É como um catador de lixo, que não sabe exatamente o que são todos aqueles trecos que leva, mas que, de alguma forma, lhe serão úteis. O improvisador, que diante dos olhos espectador parece estar vazio em cena e desprovido de recursos, precisa estar, antes de mais nada, abarrotado por dentro. De coisas que precisam se manifestar, se dizer, de percepções, pontos de vista, pequenos sonhos, coisas engraçadas, tristezas, pensamentos, acontecimentos, reações, olhares, cheiros, narrativas, histórias, fantasias, botões, fivelas, fitas de cetim.Precisa estar sempre curioso com o mundo, pra que cheio de mundo, este lhe escape. Para que naquele momento em que ele pensa não ter nada, possa revirar esse baú e encontrar uma pérola que lhe caia como uma luva, ou uma luva que lhe caia como uma pérola. Um improvisador vazio por dentro não consegue transformar nada por fora. E não deve nunca interromper essa busca por cacarecos para que não lhe esgotem as luvas ou pérolas. Ser improvisador é estar em constante movimento.
Improvisador - primeiras noções II:
O improvisador aprende cedo a lidar com o efêmero, como principal parceiro e aliado de seu trabalho, com todas as qualidades e os pesares que as coisas efêmeras trazem em si. Ele aprende, nas primeiras lições, a ser desprendido e que ser desprendido (em muitos aspectos diferentes) exige um trabalho duro.O primeiro passo e primeira dificuldade que o improvisador enfrenta é abrir mão da sua vaidade de artista. A vaidade em nada lhe será útil, já que, para improvisar é preciso necessariamente estar em cena desprendido, desarmado, para que tudo e qualquer coisa possa se manifestar. E aí, meu amigo, não há vaidade que fique de pé quando os rebotes mais íntimos vierem à tona. Quando você se vir em cena revelando ao público suas maiores intimidades, seus deslizes, suas bobagens, suas fraquezas. O improvisador precisa estar preparado e disposto a fracassar diante de todos, indo até o fundo do poço na pior mancada que pudesse dar e ainda assim olhar para todos, erguer a cabeça e continuar. Sim, porque colocar o rabo entre as pernas e sair correndo não é permitido. De forma alguma coloco o improvisador como vítima. Não. Se ele escolhe improvisar, escolhe também estar de mãos dadas ao fracasso, ao público que o compartilha e também com as genialidades que possam lhe ocorrer. E é justamente nesse momento em que ele precisa ser desprendido. Pois esses minutos de histórias passam, marcam e não voltam atrás. Se ele erra não há como justificar o erro à platéia, como quem diz, “gente, eu sou melhor do que isso”. Da mesma forma, se consegue contar uma bela história, não tem como fixar as fórmulas que deram certo para depois repeti-las. O que passou, passou. E o que ficou, ficou. E que essas belas histórias e erros não serão repetidos, aliás, serão provavelmente esquecidos minutos depois e não garantem excelência ao improvisador, que um dia pode ser brilhante, e neste mesmo dia flopar . Sua segunda lição será: alcançar a sabedoria de esquecer bons e maus momentos para, a cada dia, correr os mesmos riscos e se reinventar.
Improvisador- primeiras noções III:
Cada história contada é como uma estrela cadente,
de rabo longo, mas vida curta.
Que risca o céu com brilho intenso,
para morrer segundos depois
(quem piscar perde).
Se transformar em lágrima,ou sorriso, como diria Gil.
Rebote= a partir de uma proposta lançada por um improvisador, rebote será o primeiro estímulo suscitado num segundo improvisador, como reação à proposta do primeiro. È a primeira idéia que surge livremente em resposta a, da qual o improvisador deve lançar mão para dar seqüência a cena. Um rebote pode se configurar como uma ação, uma palavra, um estado de ânimo, uma expressão, uma pausa, uma contra- proposta, uma lembrança, etc.
Flopar= Na linguagem improvisada significa uma mancada muito grande. Uma idéia, uma proposta, uma ação, que por ser tão ruim, põe tudo a perder. É , por assim dizer, uma grande “cagada”!

In: http://aimensaminoria.blogspot.com/2008_04_01_archive.html

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