segunda-feira, 31 de agosto de 2009

pulgas...

Hoje eu fiz uma apresentação de Juju e Rorô que foi uma merda.
Gostaria muito de aprender, como se conquista a confiança de adolescentes de 5º a 8º série de uma escola pública.
Esse público é um público medroso, eles têm medo de vocÊ, do palhaço, eles têm medo de serem ridicularizados. E ser ridicularizados para eles pode significar tão somemte ser escolhido pela palhaça e chamado de lindo. Tudo é motivo para que eles se sintam expostos... eles se sentem expostos por si, pela condição social e psicológica em que vivem. Mas como ultrapassar isso?
Que ação devo fazer para que se sintam comigo e não CONTRA migo? que ação os tira dessa posição de contrários?
Como se cativa uma platéia desse tipo. Sabe, essa platéia não é aquela que vai em São Paulo aos espetáculos de palhaço. Que se desloca para ver um espetáculo que tem improviso, mas a estrutura do espetáculo é menos dependente da platéia. Ou que tem improviso, como o Jogando no Quintal, mas que o público não se levanta de seu lugares, interfere ali, na segurança de seu lugar para que o artista realize... talvez isso. Interferir primeiro à distância? eles falam algo e eu faço? o quê? como, sozinha? (pensar mais)
Outro dia conversávamos eu as meninas do trabalho, sobre como, nas apresentações feitas de Juju e Rorô, as primeiras pessoas que eu pegava eram de pouca ação, acanhadas. E como os padres eram bem mais interessantes que os Rorôs.
Pensei que talvez isso se desse porque os primeiros enfrentam o completo desconhecido ao entrer na cena junto comigo, os padres, ao entrarem, já entederam como funciona o jogo e já sabem que eu os amparo e oriento. Mais seguros, então, eles interagem mais. Será? Me proponho a fazer uma experiência então: chamar primeiro o padre, fazer uma cena com ele - pensar ainda na cena- e só depois chamar o Rorô.
Hoje, eu até fiz isso, mas eu já havia cometido um erro muito grande e sem retorno:
Ao entar, os alunos estavam sentados espalhados na arquibancada. Eu insisti em utilizar a farinha para fazer uma roda na quadra mesmo sem aluno nenhum. (já que estava todos na arquibancada e não na quadra). E mais. Convidei-os para fazer a roda ali e eles não quiseram. E minha reação foi de autoritarismo:
- Vou lavar minhas mãos e volto se vocês quiserem assisitr ao espetáculo, fiquem na roda até eu voltar.
Só as crianças foram e mais um ou outro adolescente. Mas ali duas coisas estavam postas:
. eu não havia estabelecido nenhum vínculo com eles
. e a primeira relação que eu propus foi a de ordenar que fosse do meu jeito.
. eu estava -como sempre quando se trata de adolescentes- muito armada e pouco receptiva, pouco disponível para esse diálogo, essa escuta.

Eu deveria simplesmente ter começado daquele jeito ou encontrado outra carta na manga para iniciar esse relacionamento. O Márcio Ballas, nas vezes que eu vi alguma coisa dele, inicia indo no público, em uma ou outra pessoa, "você veio? que você veio!" E vai se relacionando com um e com outro. Isso é um modo de iniciar a relação e ir cativando a platéia, por exemplo.

(obs: esse não é o Márcio, é outro dos meninos do Jogando no Quintal)


A entrada é fundamental é o início da relação de que fala Avner (ai como eu queria poder assitir ao seu espetáculo!):
"A relação com a platéia é como uma relação de amor, de início, palhaço e público estão se conhecendo, é a primeira vez, então você quer causar uma boa impressão. Mas se começar a contar um monte de piadas, é demais. É preciso ir devagar, desenvolvendo o interesse. É muito como uma relação amorosa."

"Eu acho que a relação com a platéia tem que ser um diálogo com quem você ainda não conhece. É como conhecer uma nova pessoa: se você tem uma idéia, um jeito que quer que ela seja, nunca funciona. Pra mim, esse é o ponto da relação, tem respeito, gentileza e um senso de conforto."

(in:http://picadeiroquente.blogspot.com/2009/06/amanha-tem-lancamento.html)

Essa foi, pra mim, hoje, a principal falha: eu queria começar o espetáculo de um jeito e uma outra situação estava dada. Eu quis impor o meu jeito. Eu não aceito o jeito desses adolescentes em grupo.

Como palhaço eu estou ali para me expor, para demonstrar fraquezas - minhas e deles - e não para me colocar como alguém que está acima deles, numa relação autoritária.

O palhaço, ele tem um poder imenso em suas mãos, mas é de um modo que as pessoas nem percebem, é de um modo em que se cativa o outro... não por um confrontamento direto.

A Débora, minha colega de trabalho e palco, me deu uma lição outro dia:
um garoto que a rejeitara com um insulto gratuito, foi revidado com um beijo afetuoso e ações que indicavam o encantamento da perosnagem pelo menino.
Ele estava ganho e não foi pelo embate de frente, meu impulso primeiro, claro.
Preciso aprender a canalizar minha raivosidade. Ela faz parte de mim e pode estar presente no meu palhaço. Mas à meu favor, na cena e não para me afastar do público.

Esse público é para mim uma grande escola, da arte, de mim mesma.

. fazer coisas em mim primeiro. Me mostrar humana. COmo?
. encontrar algo desse adolescente que me interesse, que seja "elogiável", um elogio à diferença. Como o tênis do Leo na escola Basiliano - sINOP-M.T.
. uma aproximação menos incisiva em alguém, com gestos que indicam menos força no desejo.
De longe, primeiro, talvez. Algo mais assim:
Por hoje, é isso. Algumas pulgas atrás da orelha... inquietações... como fazer, como se relacionar... onde encontrar respostas... na psicologia? no trabalho de outros palhaços (que não tenho acesso)?
pulgas, pulga
pulgas que me movem... isso sim é bom!
Carol

sábado, 29 de agosto de 2009

arte contemporânea - muita técnica, muita cuca no lance, muito dinâmica



Achei no blog do Glauber: http://glaubito.blogspot.com/2009/08/coma-isso.html#comments

terça-feira, 18 de agosto de 2009

“Aprendi que é preciso dar a cara para bater”

Atualmente, há uma semana, trabalho no Departamento de Artes e Esporte da Secretaria da Educação de SINOP -MT. Lançada a idéia de nos apresentarmos nas escolas, logo o grupo se prontificou. Não com a mesma visão que eu: a minha é mostrar arte, a delas iniciar um diálogo de um modo menos formal. Tudo bem. Tô muito contente com essa oportunidade. Começamos.
Hoje contamos história: eu e a Fran, numa escola bem distante chamada Silvana. A Fran foi só na confiança, mas foi muuuuiiito legal. Ela tem um nível de escuta imenso, extraordinário! "coisa de músico", diz ela. E ela tem razão.... como ator tem dificuldade de desenvolver essa habilidade...
Correu tudo bem, fluiu, e não lembro de nada nesse momento para registrar como aprendizado.
Se me lembro, retomo.


Mas à tarde... ixii à tarde....
A apresentação era para pessoas da 5º à 8º série. Muuita gente, dividimos em torno de 200 para cada apresentação.
Usei a oportunidade para fazer o palhaço... e como sempre... saio com uma sensação de fracasso imenso... pois na primeira apresentação 100% do público era meu, na segunda, apenas 70%...


Outro dia, outra apresentação... eu afinei algumas coisas, inseri outra, extraí mais algumas. Funcionou!!! A sensação era maravilhosa!!!!

Hoje eu buscava uma fala da Tiche Vianna. Encontrei uma resportagem que a certa altura contava sobre a ida da artista à Itália para pesquisar comédia dell'arte:
"Em terras européias, trabalhou com um grupo de iranianos na confecção de máscaras e passou experimentá-las nas ruas. “Aprendi que é preciso dar a cara para bater”, diz ela, que saiu do Brasil com uma mochila nas costas e muita curiosidade e voltou como referência na construção de máscaras."


Na linha que escolhi trabalhar - palhaço, improviso e participação do público, o tapa na cara é mais forte... mas a recompensa... quando chega... é EXTREMAMENTE gratificante...


***interno: esta reflexão tem uma cópia ampliada sem imagem nos racunhos salvos. ao reler, retomá-la. Mais reflexões no caderno do "pequeno príncipe."***